Quem é o homem?
O que o constitui?
Ao procurarmos a resposta para estas questões passamos a nos movimentar num terreno instável, composto por respostas superficiais, afirmações subjetivas ou doutrinárias que não resistem a uma reflexão cuidadosa sobre a experiência pessoal e nos remetem ao domínio da incerteza.
Nada deve ser afirmado sobre esta questão, que é a única realmente decisiva para o homem. Resta apenas a hesitação ou algumas afirmações tênues e convencionais, que não valem o sacrifício da vida. O homem não sabe quem é, não sabe para onde vai, qual é o sentido dos pequenos e grandes fatos que se sucedem em sua existência e, mais grave ainda, afasta estas questões de seu horizonte no cotidiano, tornando-se uma pálida imagem daquilo que está chamado a ser.
Inconsistência, incapacidade de criação e de assumir responsabilidades são alguns dos sintomas do obscurecimento da consciência do homem atual. Como afirma Hanna Arendt “a redução do homem a um feixe de reações o separa, com a mesma radicalidade de uma doença mental, de tudo o que nele é personalidade”.
Esta constatação, longe de diminuir nossa crença no valor do homem, impele-nos a trabalhar de modo mais determinado, compreendendo o contexto cultural em que estamos mergulhados, nossos limites e potencialidades.
O que é então, próprio da natureza humana?
De acordo com o grande pensador Tomás de Aquino “o ser do homem propriamente consiste em ser de acordo com a razão. E assim, manter-se alguém em seu ser, é manter-se naquilo que condiz com a razão.” Em outra sentença Tomás afirma que “o primeiro princípio de todas as ações humanas é a razão e quaisquer outros princípios que se encontrem para as ações humanas obedecem, de algum modo, à razão”.
Mesmo no interior de um contexto hostil ao florescimento de uma consciência plena, os fatores constitutivos da natureza humana podem ser atestados na experiência pessoal de cada um.
Razão e liberdade:
eis os fatores que constituem o homem. Esta afirmação não parte de uma abordagem teórica, mas do reconhecimento de que o homem é o nível em que a natureza toma consciência de si mesma.
Por que vale a pena viver?
Qual é o sentido da vida?
Por que existem a dor e a morte?
Qual é a razão do sofrimento humano?
Estas perguntas revelam o dinamismo da razão em busca da verdade, da compreensão do sentido da existência e de toda a realidade. São perguntas perenes ou fundamentais, expressas ao longo do tempo pelos gênios da literatura e da arte, são perguntas inextirpáveis, pois constituem o próprio tecido da nossa consciência. Ainda que estejam obscurecidas pela vida social, estas perguntas não podem ser eliminadas pois estão enraizadas no nosso ser e repropõem continuamente a pergunta última que define o homem como tal. Elas “exprimem a urgência de encontrar um porquê da existência, de todos os seus instantes, tanto das suas etapas salientes e decisivas como de seus momentos mais comuns. Em tais perguntas, é testemunhada a razão profunda da existência humana, pois nelas a vontade a inteligência e a vontade do homem são solicitadas a procurar livremente a solução capaz de oferecer um sentido pleno à vida. Esses interrogativos, portanto, constituem a expressão mais elevada da natureza do homem; por conseguinte, a resposta a eles mede a profundidade do seu empenho na própria existência”.
A vida é sede de um objeto que pode ser reconhecido pelo homem, mas permanece sempre além dele
“reconhecer que somos feitos de inquietude e que em nosso coração pesa um desejo de infinito é uma maneira de afirmar a liberdade incondicional de nossa vida e a maior dignidade que o ser humano pode almejar”.
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